2021-07-04
Compaixão > amor, caridade, perdão
Terminei de ler Um Coração sem Medo, de Thupten Jinpa, sobre o cultivo da compaixão (com o subtítulo imbecil de “pOr QuE a CoMpaIxÃo É o SeGrEdO mAiS bEm GuArDaDo Da FeLiCiDaDe”). Ele traça uns paralelos entre descobertas da psicologia moderna e da tradição budista tibetana. Achei muito bom, inspirador, mas não pretendo seguir muito de perto as técnicas que ele oferece. É um livro que eu pretendo largar no terminal de ônibus (post pandemiam) pra ver se semeia o coração dessa gente.
Uma coisa que vale a pena destacar é a diferença entre empatia e compaixão. A empatia é identificar-se com a dor do outro, enquanto a compaixão compele à ação para o alívio da dor do outro. A empatia é base da compaixão, mas ela sozinha é cansativa, enquanto a compaixão é energizante e empoderadora.
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Acho massa essa ênfase do budismo (o tibetano, pelo menos) no cultivo da compaixão. Não tem paralelo exato no cristianismo brasileiro atual.
Existe o “amai seus inimigos”, mas é um princípio que parece ser muito pouco promovido hoje. Além disso, costuma ser um amor objetificante, que vê no outro um alvo de conversão.
A caridade cristã é frequentemente condicional, exige a humilhação de quem a recebe. E hoje em dia ela é mais promovida na forma de “ajude o nosso projeto de evangelização”, enquanto políticos que se dizem cristãos fazem campanha contra esmolas.
As igrejas promovem bastante o perdão, mas reparem que o perdão é percebido como uma ação pontual. Se o cristão não consegue perdoar alguém, das duas uma, ou o perdão, assim como a caridade, se condiciona e é negado (fulano não merece perdão), ou nasce um perdão falso, da obrigação de perdoar, e se esconde a mágoa.
Já a compaixão não é uma ação, e sim um hábito cultivável. Não é condicional, é até pras pessoas mais filhas da puta. Mas se você não consegue sentir compaixão por fulano, tudo bem, é difícil mesmo. É humano, é honesto. Continue seu cultivo.
E da compaixão cultivada brotam naturalmente, com o tempo, o amor aos inimigos, a caridade e o perdão. Me parece uma abordagem claramente superior. Não é à toa que uma das interpretações do mantra Om Mani Padme Hum é de que “não há sabedoria sem compaixão”.
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A gente aqui conhece bem os podres do cristianismo, porque é algo mais próximo (o meu podre preferido é a cruzada das crianças), mas o budismo também tem os seus. Outro dia eu tava lendo o blog de um cara do Sri Lanka. Lá teve genocídios em nome do budismo, e os atritos perduram até hoje. A maioria da população é teoricamente budista, mas é como os nossos cristãos não praticantes. Mesmo monges podem ser grandessíssimos filhos da puta.
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E por coincidência comecei a ler um livro sobre a descolonização da Ìndia, e foi curioso ver no mapa os lugares onde Jinpa, um refugiado, viveu.
Mas o livro é grosso e já começa glorificando colonialismo... ai, ai...
Apêndices
Que que vale mais, comer ou dormir?
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mas é o glifosato que dá o sabor
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Ahegao é um negócio que murcha meu pintinho na hora.
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Meta
Ainda considerando quais formatos cabem melhor em quais mídias, resolvi analisar o que eu tenho postado. Hoje, todos parágrafos cabem num tute tamanho padrão (500 caracteres). É viável. Mas não fica bom isso de “fio”. É igual esse “apêndices” que eu tô colocando aqui. O lugar deles é num microblog. Tá ok aqui, desse jeito? Tá, inclusive melhor do que tava antes, solto. Mas não é o ideal.
Mas se eu penso demais nisso, me parece que site ≠ blog ≠ microblog, e tipos de texto caberiam melhor em um desses três, mas eu não quero ter três. Dois tá bom, três não.