2021-08-28

Mais xadrez

Pues, a minha previsão de que eu ia preferir as variantes pequenas de xadrez não se concretizou. Primeiramente, o Shogi, que me assustava, agora parece bem legal. Não sei por que tive a primeira impressão de que era complicado? Claro, é bem mais arbitrário que o Xadrez ocidental, mas ainda é simples. Talvez inclusive mais simples de jogar, porque as peças têm movimento mais limitado. Coloquei na categoria B da minha lista interminável de jogos pra jogar – as variantes introdutórias de Shogi ficaram na categoria C.

Teve várias que eu botei na categoria B e, pasmem, não uma, mas duas na categoria A.

Uma delas é Decimaka, uma tentativa de sintetizar o Maka Dai Dai Shogi, que é uma variante grandona de Shogi, na qual as peças são promovidas quando capturam, e às vezes a versão promovida é pior. O autor fez três jogos nessa intenção, e o Decimaka me parece o mais equilibrado – o Shogi Caju é ainda muito grande e arbitrário, e o Xadrez Veterano muito próximo do xadrez ortodoxo.

https://www.chessvariants.com/rules/cashew-shogi https://www.chessvariants.com/invention/decimaka https://www.chessvariants.com/rules/veteran-chess

A outra, Xadrez Maorider não me causou uma impressão inicial tão boa, mas com o tempo fui me animando. A idéia básica é: muitas peças com movimento curto e pontos cegos, e um rei que congela peças inimigas adjacentes e pode convertê-las pro seu exército (e tem uma peça que promove e vira um segundo rei). Tem muitas peças diferentes, o que é meio chatinho, mas deve valer a pena.

https://www.chessvariants.com/invention/maorider-chess

Na verdade meio que já tinha uma variante de xadrez na categoria A da vertiginosa lista. É na verdade um híbrido de xadrez e damas, na medida de 40/60, eu diria. Acho que conta muito mais como variante de damas do que de xadrez.

É Fenix, do Fred Horn. Apesar de ter uma versão comercial lançada só recentemente, o jogo é de 1975. Fred era funcionário de uma universidade, e seus colegas fizeram um clube pra jogar joguinhos na hora do almoço. Mas a galera do xadrez não queria jogar damas, e a galera das damas não queria jogar xadrez (os holandeses levam Damas Internacionais muito a sério). Iam dividir o grupo, quando Fred interveio: “Não! Não cortem o bebê! Vou fazer um jogo que vai unir todas as tribos, como o Norvana.” Aí ele foi lá e fez. 25 anos depois, trombou com um colega daquela época, que disse “A GENTE AINDA TÁ JOGANDO O SEU JOGO!”

Vi muitos híbridos de xadrez e damas no Chess Variants, mas nada interessante. Parece que o tempo todo alguém tem a curiosidade de misturar os dois, faz lá a mistura, e fica uma bosta. Mas Fenix é diferente, talvez justamente por ter uma perspectiva mais próxima do jogo de damas do que de xadrez – a captura por substituição foi abandonada, e a diferenciação das peças muito reduzida. Há a captura obrigatória e múltipla de damas, e a peça real do xadrez – uma mistura que não deveria funcionar. Explico:

As regras de cheque e cheque-mate no xadrez ocidental foram criadas justamente pra evitar finais anticlimáticos, no qual a pessoa perde o rei por causa de um erro bobo. Digamos que, em damas, erros bobos geralmente têm um impacto muito mais granular do que no xadrez, e se não tivesse a regra do cheque, a diferença seria maior. Mas damas às vezes tem longas sequências de jogadas forçadas com capturas múltiplas, difíceis de ler, e não dá pra impor um cheque nessa situação. As derrotas seriam mais repentinas e anticlimáticas. Mas, ah! No Fenix, tomando certos cuidados, é possível regenerar seu rei algumas vezes!

https://www.abstractgames.org/fenix.html

Como esses jogos estão na categoria A da pantagruélica lista, provavelmente consigo jogar dentro da próxima década =(