2021-09-15
Calculando aqui o ritmo atual de vacinação, e supondo que se geral tomar 2 doses (ou 3 pros mais velhos) daria 100%, estimo que estaremos 90% vacinados no dia 2 de novembro (mas a tendência é desacelerar agora no final da campanha).
Grupos de jogos, lobisomens, Web hostil, oh my!
Me peguei pensando nos rolês de jogos que rolam por aqui, principalmente o Além do Muro, mas também o Encontro de Itatiba. Eu estava lá, no começo dos primórdios do Além do Muro. O primeiro evento teve umas 30 pessoas talvez? No máximo. Cada um lá era amigo, ou amigo de amigo, ou amigo de amigo de amigo. Todo mundo amigo, afinal. Tinha uma atmosfera cálida, mágica.
Hoje em dia um evento do Além do Muro junta umas 300 pessoas. Os amigos daquela época, quando ainda presentes, estão geralmente ocupados com a organização. Mas tudo bem porque, se foi bom fazer amigos naquela época, vai ser bom fazer amigos agora, né? Mais ou menos. Eu sou sempre bem receptivo pra jogar com gente nova, é o que eu mais faço, mas...
É mais fácil contar uma história pra exemplificar o que eu quero dizer. Certo dia, quando o Além do Muro rolava na biblioteca. Botei o Dameo na mesa e levantei minha plaquinha pra tentar achar um oponente. Um rapaz veio, jogou comigo. Acho que jogamos Lines of Action também, não tenho certeza. Conversamos. Ele estava interessado em alguns jogos Print and Play, mencionou o Empire Engine. Eu conhecia esse! Parecia bom mesmo.
Passam-se alguns anos. O Além do Muro muda de endereço, pra Associação Japonesa, depois pro Multi Moda, e finalmente pro Grêmio. Estou novamente sentado, com o Dameo na mesa, plaquinha levantada, esperando um oponente. Um rapaz se senta e joga comigo. Eu não tinha reconhecido, MAS ERA O MESMO CARA!
Esse é um caso meio extremo. Ele é provavelmente alguém que não frequentava tanto o evento. Mas tive várias experiências parecidas. É tanta gente, que a chance de você jogar duas vezes com a mesma pessoa é pequena. E há outros fatores. Conforme o evento foi crescendo, foi ficando mais trabalhoso, e a periodicidade diminuiu.
Outro fator significativo nasceu dos próprios objetivos do evento. Mesmo que no começo fossem só amigos e amigos de amigos, o objetivo sempre foi divulgar os jogos de tabuleiro modernos. O evento foi atraindo mais gente, mas a maioria das pessoas chega no evento e vai embora em grupos fechados, e não se envolve com a comunidade.
O Encontro de Itatiba, que é muito menor, também sofre desse mal. Os organizadores são muito receptivos, se envolvem. Inclusive promovem regularmente alguns abstratos combinatoriais, jogos com grande potencial de formar comunidades competitivas. Mas o público também vem em grupos fechados, e não tem os avulsos que o Além do Muro tem.
Não posso reclamar de nenhum desses rolês. São sempre uma satisfação. Mas quero recuperar aquela magia dos antigamentes. Decidi cultivar um grupo de jogos regular. Claro que só daqui a alguns meses, quando eu e os outros estivermos muito bem vacinados.
Mas quantas pessoas seriam? Ou, pensando em termos schumacherianos, qual seria o tamanho ideal de uma comunidade? Mais gente é melhor, mas a partir de certo ponto começam a minguar as vantagens e crescer as desvantagens. Primeiramente, eu gostaria de poder jogar todo tipo de jogos. Alguns jogos são só pra dois jogadores. Outros pra exatamente sete. E ninguém pode ficar de fora, então é preciso ter margem pra algum rebolado – se tem oito pessoas no grupo, fechar uma mesa de sete é muita mancada. Se tem nove no grupo, melhora um pouco, mas os dois que sobram podem não estar tão felizes. E se faltar gente, o que acontece?
Um teto de dezesseis pessoas me parece um número ideal. É uma potência de dois. Se fizer um campeonatinho dá um tamanho ideal. Se não vier todo mundo, ainda tá confortável pra jogar qualquer coisa. E há precedentes. No BGG tem um negócio chamado Geek Chat League. Algumas pessoas se cansaram de tentar conversar com multidões aleatórias nos fóruns e decidiram fazer grupinhos semifechados com conversas mais focadas. Tem um bocado de grupinhos assim – todos com 12 a 16 pessoas!
Esse limite me obriga a escolher muito bem quem chamar. O ideal é gente empolgada com o rolê de jogos, e que more perto. Ah, claro, ao cultivar o meu próprio grupo, dá pra definir qual vai ser a pegada dele! Quero gente que não esnobe jogos tradicionais. De preferência, gente que não seja vidrada em saladas de pontos anti-interativas. E é bom o grupo começar pequeno e ir crescendo aos poucos, dá um ritmo melhor pras pessoas irem se conhecendo.
Bônus: num grupo pequeno vai ser muito mais viável se aprofundar em jogos específicos, em vez de jogar cada vez um jogo novo.
Vamos ver. Quem sabe lá pra novembro eu ressuscito meu grupo de The Crew, e, terminando a campanha, eu vejo isso aí.
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Lobisomem é um jogo que, nas suas formas mais populares, nunca me encantou. Até que fiquei sabendo que a versão original é bem diferente. Não tem poderes especiais; é possível linchar várias pessoas durante o dia; os lobisomens (ou mafiosos, originalmente) não podem se comunicar durante a noite, e precisam escolher independentemente a mesma pessoa para atacar – se a escolha não for unânime, ninguém morre (mas é anunciado quem foi atacado). Daí que os lobisomens são obrigados a coordenar seus ataques durante o dia, à vista de todos, mas de maneira dissimulada!
Também tem um sistema de pontuação engenhoso, interessante pra quem quiser jogar várias rodadas, ou manter algum tipo de pontuação contínua, ranqueada. Para os lobisomens, é indiferente, talvez até vantajoso, sacrificar seus colegas, enquanto que os aldeões ganham sendo altruístas. Naturalmente, isso abre mais possibilidades de blefe pros lobisomens (podem me matar, mas matem ele também!) E, como o jogo não acaba automaticamente quando morre o último lobisomem, os aldeões podem continuar linchando gente, arriscando uma pontuação menor, em troca de estar mais seguros da morte do lobisomem.
https://web.archive.org/web/19990302082118/http://members.theglobe.com/mafia_rules/
Mas a leitura das regras ao pé da letra levanta uma questão estranha. É aparentemente possível que um lobisomem ataque a si mesmo ou a seus companheiros de equipe[1]. Atacar outros lobisomens, vá lá, disputas territoriais... mas morder o próprio braço? Dar um tiro no próprio pé? Pode ser uma tática válida pra despistar: “fui atacado durante a noite!”; mas não faz sentido, tematicamente. E o risco é quase nulo, já que, pra ser eliminado, um jogador precisa ser atacado por todos os lobisomens – inclusive ele próprio, o que faz menos sentido ainda.
Encontrei outra versão das regras, também bastante antiga, que ainda mantém o elemento-chave da descoordenação dos lobisomens, mas um pouco diferente. Para que eles matem alguém à noite, não é preciso unanimidade; basta uma maioria. De resto, essa versão já se parece com as mais modernas, com apenas um linchamento por dia, com um vidente/inspetor, e sem pontuação. Lobisomens podem atacar e matar seus colegas, mas não a si próprios.
Me sinto tentado a experimentar a versão original com um ajuste inspirado na versão húngara – que os lobisomens precisem de unanimidade para matar um aldeão, mas que precise de todos menos um para matar um colega. Na versão original, os aldeões só têm certeza de que mataram um lobisomem quando cai a noite e tem um ataque a menos. Nesta versão híbrida, posso anular o ataque do lobisomem que morreu, de maneira que os aldeões nunca vão ter certeza se realmente lincharam um lobisomem, ou se lincharam um inocente e os lobisomens mataram um dos seus durante a noite[2]!
Acho que entendo por que o jogo acabou se transformando no que é hoje. O jogo original é superficialmente simples, mas um pouco anti-intuitivo, com um ritmo mais irregular, desajeitado. Talvez até sem querer, alguém simplificou a fase da noite, e passou a alternar de maneira mais rígida entre as duas fases. O jogo passou a fluir melhor, mas os lobisomens ganharam uma vantagem tremenda, que só pôde ser remediada pelo poder especial do vidente! E isso abriu o precedente pra outros poderes especiais.
[1] O autor mo confirmou por e-mail, é isso mesmo.
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Já reclamei por aqui das atualizações do BoardGameGeek. Dessa vez saiu uma pior. Não consigo nem abrir o site.
Vejam bem, eu uso, a maior parte do tempo, um Firefox tunadão pró-privacidade. Mas isso gera incompatibilidade, às vezes. E são vários ajustes, e nem sempre é fácil descobrir qual deles está causando incompatibilidade em cada situação. Eu não sei que nova tecnologia invasiva o BGG resolveu adotar agora, mas a maioria das páginas nem carrega. Se eu rodar uma instância vanilla do Firefox, consigo abrir normal (e perceber que o site tá ainda mais feio e desconfortável, eca).
Eu queria mesmo é não ter que lutar tanto pra ter alguma privacidade. Como disse o Burro, Deus me deu o rabo pra espantar as moscas, mas bom mesmo seria não ter nem rabo, nem moscas.
EDIT: Ok, eles reverteram a mudança. O fato de terem desfeito tudo (e não só corrigido o problema), me faz suspeitar que não, não repensaram a tecnologia invasiva. Só viram que ficou feio e desconfortável mesmo.